Esticados na praia, ela para ele
orgulhosamente: “Vais ficar preto!”
E vai mais uma barrada de óleo
Johnson. “Queres nas pernas?” “Sim, sim. “
Dispara o filho: “Põe-lhe na
cara!”
Ai...isto foi há dias, século
XXI, numa altura em que se olha de lado e se torce o nariz a quem apresenta um
escaldão...não quero parecer moralista mas o tempo da pele de pato à l’orange
não é este.
As coisas mudaram tanto em tão
pouco tempo, não te parece?
(Queres ver um “eu sou do tempo
em que...”?)
Eu sou do tempo em que o ar na
praia cheirava a coco e não era de protetor solar. Back in the day usava-se era
bronzeador. Isto servia para adultos e canalha. Aliás o protetor solar era de
um fator baixíssimo, colocado já quando o povo tinha montado a barraca para
proteger a feijoada do almoço do sol e já os putos estavam fartos de correr na
areia. Como sou do Norte o dia de praia começava cedo geralmente enevoado e
frequentemente corria aquela aragem que prepara este meu povo para qualquer
temperatura de qualquer água deste planeta. Quem sobrevive às praias do Norte está
apto a ser conservado em criogenia sem preparação prévia!
Quando eu era miúda morava numa
aldeia. Tínhamos que dizer “Bom dia” a todos quantos com nós se cruzassem sob
pena de dizerem que éramos malcriados e não tínhamos respeito. Isto implicava
que um percurso de 30 metros para ir ao pão (com saquinho de pano na mão, que
no meu tempo não se prejudicava o ambiente desperdiçando papel...) resultava
num tormento de 15 minutos em que me parecia que a velhada se levantava toda à
mesma hora que eu e ia ser uma catrefada de gente na loja que nunca mais regressava
a casa...
Na loja vendia-se vinho do pipo
(tinhas que levar vasilhame), leite avulso, marmelada aos cubos e no café em
frente às vezes no inverno vendiam gelados. Ah pois é. Acabando o verão os
cafés deixavam de vender gelados. Mas nos fins de semana à tarde, depois do
almoço e antes de uma sessão de televisão com o que houvesse para ver, íamos lá
buscar 2 Cornetos de chocolate e dois de morango (quase sempre), ou melhor
ainda, Cornetos de whiskey! Até hoje amaldiçoo o dia em que alguém achou que
era de mau tom anunciar que era de uma bebida alcoólica! Já repuseram o Fizz
mas ainda ninguém se lembrou do Corneto de whiskey ou do Super Maxi de laranja
(havia mais que um sabor, meninos e meninas, não era só a monótona baunilha,
não era não).
Podíamos até tirar um cigarrito
às escondidas mas íamos abertamente ao café comprar cigarros para o pai e
ninguém pedia o BI nem as máquinas estavam bloqueadas. Não havia máquinas e nunca
se tinha ouvido falar de pessoas bloqueadas...Aliás as pessoas eram tudo menos
bloqueadas ou complicadas. Caías como o caraças, não te amparavam quedas, fossem
físicas ou emocionais, batias com o focinho tantas vezes que os joelhos nem
tinham tempo de criar crosta, literal e metaforicamente falando.
Eh pá, lá atrás não fui
totalmente correta. Não éramos assim tão ecológicos. Não se reciclava e as idas
ao caixote do lixo eram diárias. Faziam parte da rotina. Uns levantavam a mesa
do jantar e outros levavam o lixo ao contentor (que era de metal, engraçado,
nunca mais vi um). Embora, a bem da verdade, se fizessem coisas giras,
rotineiras mas que agora pensando nelas eram logicamente medidas de poupança,
financeira e ambiental: o lanche da manhã era embrulhado num guardanapo de pano,
as pastilhas elásticas guardadas no frigorífico antes das refeições e retomadas
mais tarde. Os lápis usavam-se até ao fim e havia quem afiasse as duas
extremidades para não perder tempo à procura da afia que era aguça na minha terra.
Da escola para casa ia-se a pé e
o snack de fim de dia era quase sempre azedas chuchadas até às aftas finais e
já na primavera era a vez daquelas que nós apelidávamos de “açucenas” (mas
agora que já conheço muitas flores acho que não eram) que tinham uma aguinha
doce soberba. Comíamos muita coisa das árvores, a mais estranha que comi foram
nozes ainda em leite, soube bem mas não vou entrar em pormenores quanto ao
desfecho dessa experiência...
Aqui há atrasado (que é como quem
diz antigamente) o português era um
povo estranhíssimo. Não era obrigatório usar cinto de segurança, nem o condutor
quanto mais a criançada! ; na escola primária as enfermeiras deslocavam-se para
administrar vacinas; ainda na escola, e bem antes dos pacotinhos gratuitos de
leite, a sra empregada fazia canecadas de leite com cevada para os lanches da
manhã e da tarde; não sei como nunca houve nenhuma tragédia na sala de aula
chegado o inverno gélido, com o aquecedor a gás da professora...já que falamos
em acidentes, ainda fico pasma quando recordo que na 4ª classe pude brincar com
fogo. O projeto de Natal consistia em cobrir uma lata de spray com cera
derretida (!) para reproduzir uma vela decorativa para o centro de mesa.
Sabendo hoje o perigo que corremos cada um com a sua lata em pressão e
respetiva chama acesa a pingar confesso que agradeço a Deus o ensino público
dos anos 80 – oitenta e muitos que não sou assim tão idosa!
Vamos ao momento em que o texto
dá a volta e regressa ao início?
Escaldões, escaldões apanhávamos
nós! E curávamos com Eucerin, e Disoderme leite ou ainda mais artesanalmente:
eu e a mana sentadas na pontinha do sofá com sacos de plásticos cheios de água
pousados nas pernas e braços...
Those were the days é o que tenho
a dizer!
Xiiii nao es a unica a ficar saudosista, amiga... Eu tb fiquei... Revi me tanto nas tuas palavras q parece q por momentos os cheiros e is sabores voltaram tds... Ai as azedas ou chuchas cm eu lhes chamava... O corneto de whisky pah q so provei uma dentada porq a minha mae disse qpodia ficar bebada hahaha ri te a vontade q eu tb ainda me estou a rir ;) desde ja te agradeco por tdas estas lembrancas maravilhosas e estupendas :)
ResponderEliminarIt makes two of us my Dear...Those truly were the days...
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