Anda tudo em alvoroço, os “indignados”
na rua, os incrédulos na ponta de um microfone, o povo todo surpreendido com o
que se “oferece” como retribuição por serviço prestado ou o infindável rol de
tarefas que se espera que o outro seja capaz de desempenhar a troco de pouco mais
que o salário mínimo…Uma breve passagem de olhos pelos
jornais ou uma visita a alguns sites de emprego bastam para a teoria ser facto.
Enquanto país futebolisticamente orgulhoso e de punho cerrado batendo no
peito somos grandes, agora no que toca a defendermos a nossa dignidade somos
minúsculos.
O aumento dos bens podia ser “um bocadinho menos...assim 5%. Os 7%
é assim, muito…”. Dizem-nos que podemos vir a sofrer cortes de 100 euros,
aumentos de 10% e dias depois os cortes afinal são de 70 euros e os aumentos de
7% e então aliviadinhos dizemos “Ufa, podia ter sido pior!” (?!), como “pior”?
Será que não passa pelas cabeças destas criaturas que o plano está de antemão traçado?
Que era ridículo avançar-se com valores para dias depois serem corrigidos? Não
é exequível num planeamento orçamental atirar-se um número ou valor percentual
para na mesma semana (e já perto do fim de semana para ajudar ao descanso e à absorção de informação) ser feito um “ah afinal não será tanto”. A estratégia
funciona sempre. Achamos sempre que há alguém que realmente se preocupa e
conformados enterramo-nos um pouco mais no sofá da quietude e subserviência. Comemos
e calamos, ligamos e desligamos na hora de sair de casa e regressar, switch on: tarefas cumpridas, switch off: empacotamento televisivo,
chichi e cama, no in between, até se ouvem os grilos a cri-cricar!
No tempo das vacas que-deviam-ter-espelhos-daqueles-que-distorcem-pois-achavam-se-gordas-e-via-se-que-aquilo-era-chão-que-ia-dar-em-magreza, era o florescer de cursos privados para profissões
que iam oferecer mais que a procura. Ganâncias que se esqueceram de criar um
grupo sindicalizado forte e acabaram por entregar os seus profissionais às mãos
de empresas que gerem os tetos salariais e agora, a título de exemplo, temos
enfermeiros que depois de um curso muitíssimo exigente têm que “contentar-se” com
pouco mais de €300/mês. Podem não calar-se (vêm aí os protestos e ações de rua)
mas vão comer porque são muitos, não se preveniram como os médicos (que mantiveram o limite de vagas e viraram a cara ao privado) e agora têm
empresas externas a lapidar salários. É o desbarato à pior oferta.
Mas agora, a sério: vou juntar os
3% de diferença que “ganhei” com a correção e passar da meia ao collant a ver
se o meu pé fica decente.
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