Anos, anos antes do Matrix, um
dos meus (inúmeros) sonhos recorrentes era o salto em slow motion e em altura. Não era sobre voar, era sobre pular mas em
câmara lenta. Só ouvia o stomp que os
meus pés faziam ao bater no chão e depois o vuuuush do ar deslocado por mim a
escorrer pelos ouvidos. Nunca falava com ninguém nem via nada de especial a
acontecer que me impelisse para a fuga. Era só fechar os olhos, adormecer, e….vuuuush.
O sonho era “apenas” isso: parava num cenário, levava o meu tempo a ver o que
me interessasse e seguia para outro cenário, era isso: sem conversas, nem
perceções de estados de alma, sem visões iluminadas, sem conclusões nirvanianas…
Na literatura - vastíssima - que se
debruça sobre a interpretação de sonhos (fiz questão de consultar algumas
publicações, sempre cética em relação a tanta coisa gosto de manter-me
informada, no lo credo, pero…) diz-se que podemos imputar este tipo de sonhos a
estados de ansiedade. Puf, nada disso, pelo menos comigo…ou será uma forma
inteligente de inconscientemente lidarmos com isso e depois acharmos que
resolvemos mesmo bem as etapas da nossa vida?! Adiante…
A ansiedade é uma coisa muito mostrenga.
Para umas coisas insinua-se com acelerações de batimentos cardíacos, estoura
nos ouvidos e atira-nos para as situações quer queiramos quer não e logo se vê…
Noutras ocasiões assombra o subconsciente e já não lidamos tão fisicamente com
ela, sonhamos e a psique que resolva… e casos há em que a sentimos segundo a
segundo sem parar e sem passar…não passa…uma notícia (má) que nos chega de uma
forma que não nos permite lidar com ela na hora, despoleta o estado de
ansiedade - alguém que sofre longe de
mim, que quero abraçar e não consigo por estar fisicamente longe, começa a
apertar-me lentamente as têmporas. O abraço fica adiado, por força das
circunstâncias, adiado para daqui a pouco tempo mas mesmo assim o tempo urge e
a ansiedade que não passa…as ansiedades não são de todo iguais, esta é dor
incessante, é incessante porque nos deixa funcionar e até interagir, produzir e
socializar, amar…mas está com os dentes férreos cravados na carne, é carraça e
suga. Deixa-nos como os heróis nos jogos de plataformas: andamos mas vamos
vendo o “stamina” a descer…
Vuuuush…fecho os olhos e, num pulo
estarei aí…esta ansiedade, só a aplacarei num abraço apertado a sentir o teu
coração bater encostado ao meu e, aí o pulsar das têmporas dar-me-á tréguas…
(dedico estes pensamentos à minha
Amiga L)